Coluna Geremias Pignaton: A Imigração Europeia e as Teorias Raciais do Século XIX

Coluna Geremias Pignaton: A Imigração Europeia e as Teorias Raciais do Século XIX

O fenômeno da imigração italiana deu origem aos nossos municípios de Ibiraçu e João Neiva e, embora muito estudado, escrito e debatido, sempre existe espaço para mais discussão sobre o tema.

Por que a Imigração naquele período?

Do ponto de vista dos imigrantes, fuga da miséria, da fome, busca de uma vida melhor. Ninguém sai de seu país, sua terra natal, carregando toda a família, para um país desconhecido, outros costumes, outra língua, outro clima, se a situação estiver boa.

Do ponto de vista do governo e das elites brasileiras, era para melhorar oferta de mão de obra - só os escravos executavam trabalhos braçais aqui, sobretudo no campo, a escravidão estava em vias de ser abolida - e ocupar imensas áreas de terras vagas.

Bom, isso estamos cansados de saber. Aprendemos na escola, nos livros, nos bate-papos, enfim, já está internalizado em todos nós

Entretanto, tem uma outra motivação do governo imperial e da elite brasileira que não é muito falada, nem muito comentada, ao menos na escola de minha época.

Existiam, naquele período e até os anos de 1930, as tais teorias raciais. Artigos em jornais, revistas e livros difundiam a ideia de que havia uma hierarquia nas raças, sendo o branco europeu o topo da pirâmide. A maioria dos intelectuais, inclusive o imperador Pedro II, defendiam essas teses. Entendia-se que a principal razão do nosso atraso no desenvolvimento econômico e social era o nosso povo miscigenado, índio e negro. Deveríamos importar europeus para produzirmos um branqueamento do povo.

Naturalmente que, mesmo sendo uma ideia que circulava no meio intelectual, acadêmico e governamental, esse pensamento chegava no povo. Diz-se que entender o que pensava o homem médio de uma época é entender a história desse período. Nos meus estudos, busco entender isso tudo. Diante de levas e levas de pobres e analfabetos camponeses alemães, italianos e outros europeus, que desembarcavam de abarrotados e insalubres navios, achando serem eles a raça superior que iria melhorar a qualidade dos nossos descendentes, o que pensavam os brasileiros brancos, mestiços, índios e negros? E eles, os brancos europeus, camponeses analfabetos miseráveis, o que achavam de serem os reprodutores para uma raça melhor?

Nós, em Ibiraçu, João Neiva e Aracruz, que influência sofremos disso tudo? O que ainda está presente em nossa mentalidade e cultura?