Coluna Geremias Pignaton: O Prefeito Negro

Coluna Geremias Pignaton: O Prefeito Negro

 

Na sessão de posse do prefeito e dos vereadores de Ibiraçu, no dia de Ano Novo passado, vi a vereadora Patrícia, recém eleita e empossada, dizer que é a primeira negra a ocupar o cargo. De fato, ela tem razão. Em nosso município, antes dela, apenas 5 mulheres ocuparam o posto. Vou citar os nomes dessas pioneiras: Lúcia Cometti, Donatila Araújo, Milte Barbariol, Valéria Rosalém e Bete Malbar. Agora, mais duas: Patrícia é a sexta e Viviane é a sétima.

E prefeito negro, Ibiraçu já teve? Sim, na virada do século XX, por volta de 1900. Tenho inclusive razões para acreditar que foi o primeiro prefeito negro de todo o estado do Espírito Santo. Em Ibiraçu, foi o primeiro e único.

Manoel Pereira Pinto ocupou o cargo de prefeito de Pau Gigante (Ibiraçu) em três mandatos: de 23/05/1899 a 23/05/1900; de 23/05/1901 a 20/05/1908 e de 23/05/1915 a 23/05/1916.

Nessa época da Primeira República, havia um órgão chamado intendência. Era parecido com o que chamamos de câmara municipal hoje. Os cidadãos elegiam os intendentes que os representavam. Esses representantes escolhiam um entre eles para ser o presidente da intendência, que iria administrar o município. Era quase um parlamentarismo. Portanto, esse eleito pelos seus pares funcionava quase como o prefeito de hoje. Não era eleito diretamente pelo povo para exercer a função. O mandato desse gestor municipal era de um ano, podendo ser renovado sem limites.  

Houve inclusive um período em que esses intendentes passaram a se chamar governadores municipais. Somente a partir de 1916 é que se passou a ter a nomenclatura e o modelo que temos hoje, com vereadores e prefeitos. Durante o período inicial da república houve muita confusão de modelos e nomenclaturas, próprio dos regimes que estão em processo de estabelecimento.

A atividade principal do Manoel Pereira Pinto era de comerciante, estabelecido na localidade de Santa Maria, hoje município de Aracruz, mas naquele tempo situada no município de Pau Gigante. Era também fazendeiro com inúmeras propriedades na região. Foi um dos pioneiros a se estabelecer naquele povoado. Ele nasceu em Santa Cruz, em 1862, filho de um africano com uma portuguesafaleceu em 1955 e está enterrado no cemitério de Santa Maria, ao lado de sua antiga propriedade.

De realização como prefeito, temos um ato histórico relativo à cidade de João Neiva. Foi ele, em 1916, durante seu último mandato de prefeito, que assinou o decreto de desapropriação das terras de Negri Oreste, possibilitando a ocupação intensiva ao lado da estação, fazendo surgir com mais força o povoamento que deu origem à cidade de hoje.

Manoel Pereira Pinto deixou descendentes e parentes na nossa região. Entre seus parentes, temos o senhor Orlando Fraga, seu sobrinho, morador do bairro São Benedito em Ibiraçu. Também temos a senhora Benilde Pereira Maffei, sua neta, viúva de Arlindo Maffei, moradora de Pedro Palácios.

Além da função de prefeito, Manoel Pereira Pinto esteve sempre presente na política de Pau Gigante desde 1898, sendo eleito sucessivamente até 1928. Foi também por diversas vezes presidente da Câmara Municipal. Em algum momento da história, recebeu a patente de Coronel, por compra ou presente, devido a sua influência política e riqueza. Narceu de Paiva filho disse que era conhecido por Coronel Manduca e que recebeu o título em 1937. Contudo, encontramos referência anterior nas fontes.

Fontes desta coluna: Homens que Fizeram Ibiraçu, Livro de Narceu de Paiva Filho. Subsídios à História da Imigração Italiana nos Municípios de Ibiraçu e João Neiva, de Lucílio da Rocha Ribeiro.

Foto 1 – Retirada no túmulo dele em Santa Maria. Foto 2 – feita na ocasião da chegada do primeiro juiz em Pau Gigante, novembro de 1910. Foto 3 e 4 – Decreto de desapropriação das terras de Negri Oreste em 1916. Recortes do jornal Diário da Manhã, Vitória- ES, 14 de abril de 1916. Esse documento muda um pouco a concepção histórica da fundação de João Neiva. O povoamento ao redor da estação, inaugurada em dezembro de 1905, foi muito disputado. Esse assunto poderemos abordar em outra ocasião.