Coluna do Geremias Pignaton: As Mulas do Guidetti
Do inventário de Césare Guidetti, o homem mais rico de Ibiraçu na época, que morreu quando ocupava o cargo de presidente da intendência (prefeito) em 1896, retiramos esse demonstrativo do número de animais de tropa que ele possuía.
Guidetti era forte comerciante comprador de café, tinha um grande armazém em Pau Gigante (Ibiraçu) e outro em Córrego Fundo. Era também forte comerciante de outros gêneros, com casas comerciais em Santa Cruz, Córrego Fundo, Pau Gigante, Demétrio Ribeiro, Acioli e Vitória.
Nessas lojas, ele vendia de tudo, sobretudo artigos importados da Itália: vinhos e outras bebidas, roupas, chapéus, lentes, sapatos, tabaco, entre outros artigos luxuosos. Vendia para colonos saudosos da terra natal.
Temos registro de que ele foi sócio de um hotel famoso em Vitória chamado Hotel Europa.
Da lista das mulas, tiramos a seguinte conclusão: o número foi subestimado. Temos quase certeza de que a quantidade era muito superior. Vejam que cada lote tem dois tropeiros. Acreditamos que eram poucos animais para cada homem contratado. Achamos que foi uma forma de burlar o fisco e diminuir o volume de bens. Mesmo com toda essa nossa desconfiança, foram arrolados 191 animais.
As tropas eram o meio de transporte de carga da época e viviam espalhadas por todo o território, de Vitória ao Rio Doce.
Para registrar a quantidade, o empregado do Armazém de Córrego Fundo, Hugo Denti, e o parente de Guidetti, Umberto (provável sobrinho ou primo), gastaram quase dois meses, entre abril e julho de 1896.
Césare Guidetti, o nome de minha rua no bairro São Cristóvão em Ibiraçu, foi um dos personagens marcantes da nossa história do final do século XIX. Sua vinda para o Brasil ainda é muito nebulosa, ele não chegou com os imigrantes italianos a partir de 1874. Nunca encontramos o registro de sua entrada no país.
Nem Césare nem seu "sobrinho" Umberto deixaram descendentes na nossa região. Os Guidettis de Aracruz pertencem a outra família, que tinha a grafia "Ghidetti".