Coluna Geremias Pignaton: Casamentos em Ibiraçu

Coluna Geremias Pignaton: Casamentos em Ibiraçu

Nas décadas de 1970 e 1980, os pais dos noivos faziam na gráfica - tipografia na época - um convite de casamento num papel bonito, às vezes colorido, e entregavam nas casas dos convidados, acondicionados em belos envelopes. Quanto mais ricas eram as famílias, mais bonitos e chiques eram esses chamados aos amigos e parentes.

À medida que chegavam à nossa casa, mamãe guardava esses convites dentro de uma imensa Bíblia. Quando as datas passavam, ela os eliminava. Toda semana, era comum haver muitos, tornado o livro sagrado estufado.

Durante minha juventude, na virada da década de 1970 para 1980, estudante duro, completamente sem dinheiro, eu frequentava essas festas de casamento. Era a oportunidade de tomar umas cervejas, confraternizar com amigos, sem ter que gastar. Muitas vezes, eu ia a duas ou três dessas festas, fazendo uma espécie de via sacra por elas, bebendo e comendo de graça.

No sábado à tardinha, perguntava a minha mãe se havia casamento em que estávamos convidados. Ela recorria ao arquivo da Bíblia, olhava atentamente os convites e me informava as festas que eu poderia ir, sem que pudessem me acusar de penetra. Não raras eram as vezes em que havia mais de uma confraternização para que eu escolhesse a de minha preferência.

Se as festas fossem próximas uma da outra, eu dava uma passadinha por todas, mas a primeira em que eu ia era escolhida de forma bem criteriosa. Adotava a lei de mercado. Elegia a festa das pessoas mais pobres, aquela que em teoria seria a menos farta. Quanto maior o número de eventos, mais fácil seria minha escolha. Ia para aquela em que as famílias dos noivos eram de menor condição econômica. Essas seriam as menos concorridas, com melhor atendimento dos convidados e com maior fartura. Não havia erro.

Construí assim a ideia de que festa de pobre é muito melhor do que festa de rico. Casório de pobre, ao menos nesse período, era mais proveitoso para aquele jovem sem grana em busca de uma bebidinha e de um divertimento. Nunca dava errado!