Coluna Geremias Pignaton: Jean Theodore Descourtilz
Você já ouviu falar em Descourtilz? Se é capixaba, sobretudo de Aracruz, Ibiraçu e região, deve já ter ao menos visto alguma coisa.
Esse geólogo e naturalista francês, apaixonado por aves, desenhista e pintor de grande talento, esteve por nosso estado e região na longínqua década de 1850, a serviço do governo imperial. Veio com o objetivo de encontrar minerais e pedras preciosas. Encontrou qualquer coisa nessa área, mas as joias valiosas que mostrou ao mundo com seu talento foram os passarinhos, sobretudo beija-flores.
Permaneceu nas nossas matas por 4 anos e encontrou morte trágica na Vila do Riacho, distrito do antigo município de Santa Cruz, hoje Aracruz. Morreu misteriosamente envenenado por arsênico, substância que usava para empalhar animais. Seu corpo foi encontrado numa cabana onde morava e usava como laboratório para pesquisas. Não se sabe se foi uma morte acidental ou suicídio. Eu, como amante de aves, acho muito difícil que alguém com esse perfil tenha tendências ao suicídio.
A morte trágica se deu em 13 de janeiro de 1855 e seu corpo foi enterrado no antigo cemitério de Santa Cruz, contíguo à Igreja de Nossa Senhora da Penha, que foi desativado nas últimas décadas do século XIX e se perdeu completamente. Junto com esse cemitério, perderam-se os túmulos de dois importantes personagens da história do Brasil, do Espírito Santo, mormente de nossa região: Pietro Tabacchi e o próprio Descourtilz.
No campo da geologia, Descourtilz revelou a presença de uma jazida de ouro na região de Venda Nova do Imigrante, uma de ferro em Castelo e uma de prata no Morro do Óleo em Aracruz.
O naturalista francês deixou dezenas de pranchas gravadas em litogravura, de colorido esplêndido, publicadas num livro raro pela imperatriz da Áustria, Teresa Cristina.
O livro do historiador Capixaba Levy Rocha, editado em 1971, "Viajantes Estrangeiros no Espírito Santo", tem um capítulo sobre Descourtilz.
Há de se supor que muito antes da chegada dos italianos a Ibiraçu, Descourtilz passeou pelo interior de nossas matas, observando nosso solo, nossas cachoeiras, nossas plantas e nossas aves. Quem sabe, em Ibiraçu, banhou-se na ducha de nossa Cascata, bebeu água na nossa Biquinha e extasiou-se ante o panorama do nosso vale, do alto do mirante do Morro de Aricanga. Em Aracruz, deve ter caminhado pelas maravilhosas praias desertas de Barra do Sahy, Putiri e Mar Azul, em meio ao corre-corre de guruçás e batuíras.