Coluna Geremias Pignaton: Teimoso - Pidócchio
Dizem que o famoso político baiano, Antônio Carlos Magalhães, o ACM, quando questionado sobre sua famosa teimosia, dizia: eu não sou teimoso, teimoso é quem teima comigo. Não sei se ele disse mesmo isso, se a frase foi uma criação dele ou se copiou de outro, mas gostei tanto que adotei. Sempre me defendo assim, quando sou acusado de intransigente.
Minha querida e saudosa mãe, quando queria dizer que alguém era teimoso demais, falava que parecia com o do “pidócchio”. Eu, ainda criança, cansei de ouvir esta expressão: fulano é teimoso igual ao do “pidócchio”, ou mesmo direto para mim: você é teimoso igual ao do “pidócchio”.
Curioso, não demorei para perguntar a minha mãe qual seria a origem da expressão. Por que ela falava sempre isso? Qual o significado da palavra que ela usava para se referir a um teimoso em excesso? Eu achava que seria um dos inúmeros sobrenomes italianos que abundam em nossa região de Ibiraçu- ES. Naturalmente, ela estaria me comparando a algum conhecido que se notabilizou pela enorme teimosia.
Surpreendi-me com a história contada por ela. A palavra “pidocchio” significa piolho em italiano. Ela, influenciada pelo dialeto vêneto, falado pelos antigos italianos de nossa cidade, pronunciava com uma variação dialetal.
Um sujeito tinha o apelido de “pidocchio”. Ficava muito furioso, se alguém o chamasse assim. Xingava, gritava alto, insultava com muita veemência o atrevido que ousasse se referir a ele pela alcunha detestada. Não raro, partia para agressão física, causando caso de polícia e justiça.
Certa feita, na beira de um rio, ele encontrou um indivíduo que o chamou de “pidócchio”. Partiu com toda força sobre o sujeito e o jogou dentro d’água. Mesmo vendo a fúria do sujeito, o teimoso continuou a chamá-lo pela alcunha. A briga transferiu-se para o interior do rio.
Maior e mais forte, o sujeito afundava a cabeça do teimoso na água e dizia aos berros: chama novamente de “pidócchio”. Ao liberá-lo, o teimoso repetia: “pidócchio”. Afundava novamente o indivíduo e segurava por um tempo. Ao soltá-lo: “pidócchio”. Ficaram nessa teima por uma dezena de vezes. Afundava, segurava e ao retomar o fôlego: “pidócchio”.
Por último, ameaçou: vou te matar! E segurou por um tempo bem maior a cabeça submersa. O teimoso, afundado, quase morrendo em apneia, tirou as mãos da água, aproximou as unhas dos polegares num gesto característico de quem mata uma pulga, um carrapato ou, como era o caso, um piolho.
Eu não sou igual ao do “pidócchio”. Teimoso é quem teima comigo!