"Missão é igual para todos": policial penal é a única mulher da tropa com cães da Sejus
"Aqui a missão é igual para todos, independente se você é homem ou mulher", sintetiza a policial penal Cintya Salomão, 40 anos. Ela é a única mulher a compor a tropa do Grupamento de Operações com Cães (GOC) da Diretoria de Operações Táticas (DOT), da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus).
O grupo, formado por outros 12 integrantes, tem, em suas atribuições, atuar com os animais em controle do ambiente prisional em situações extremas (como rebeliões).
Além disso, também devem colaborar mantendo a segurança no dia a dia dos presídios, com ações preventivas como, por exemplo, acompanhando, se necessário, operações de transporte e de transferência de internos, além de revistas nas galerias dos centros penitenciários em busca de material ilícito, como drogas.
"Estamos sempre de prontidão e somos um grupo que pode ser chamado a atuar em qualquer uma das unidades prisionais no Espírito Santo. A rotina aqui é de adrenalina. Comecei na Sejus em 2009, como agente penitenciária, trabalhei em várias unidades, tive um período no setor administrativo por causa da gravidez e da chegada da minha filha Helena, hoje com seis anos. Mas atuar no operacional, na rotina dos presídios, sempre me atraiu, com essa possibilidade de adrenalina. E a coisa ficou mais agradável ainda porque aqui no GOC trabalho com os cães, que adoro. Me sinto muito realizada aqui. Meu trabalho tem aventura e tem cachorro, quer coisa melhor?", diverte-se.
Para atuar no grupo tático, ela também foi a única mulher da Sejus a fazer o curso especializado na Polícia Militar.
Cadela Zaya fez sua primeira descoberta de drogas numa unidade prisional no Xuri, em Vila Velha
O xodó dela chama-se Zaya, uma pastora belga malinois de um ano e 11 meses. Especialista em descobrir entorpecentes, a cadela é só alegria para a agente.
"Ela está comigo desde que tinha três meses. E desde então sempre está me surpreendendo. Virou minha fiel escudeira. Me deu orgulho na primeira vez que descobriu entorpecentes numa revista que fizemos numa unidade prisional no Xuri. E foi a primeira de muitas", comemora.
Cintya explica que, no trabalho com cães, o vínculo com o animal é importante. Não se trata apenas de adestramento. "O cão e o agente devem ter essa ligação. Deve haver uma confiança mútua para que ele te responda até além do que foi ensinado a ele no treinamento. A maneira como ele se integra ao nosso trabalho também nos inspira a colaborar sempre em manter a segurança no ambiente prisional", desenvolve.
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal450
O respeito pelos animais se traduz na policial por uma tatuagem no antebraço, onde a figura estilizada de um cachorro divide espaço com motivos florais. E a levou a se especializar na Receita Federal, onde realizou curso de condutor de cães de faro.
"Foi incrível! Fizemos treinamento com os cães em aeroportos, no setor de encomendas dos Correios, nas alfândegas. Além de um aprimoramento para minha carreira e para minha paixão, foi uma forma de demonstrar o respeito à atuação dos cães na nossa função", sintetiza.
Mulher tem que estar onde ela quiser
A policial penal disse que a família se assustou quando ela decidiu ser agente da lei num ambiente prisional. "Minha mãe até hoje não se acostumou, como toda mãe que se preocupa com a filha. Mas, sempre fui determinada e era o que eu queria: seguir o sonho", descreve.
Na opinião de Cintya, é cada vez mais crescente a presença feminina no setor de segurança pública.
"É ótimo que estamos conquistando espaço. Temos muitas mulheres nas forças policiais e militares, provando que não há espaço para aquele discurso machista de que a mulher deve se limitar ao trabalho administrativo. Na verdade, a mulher tem que estar onde ela quiser: pode ser no setor administrativo ou no setor operacional. O importante é ela se sentir realizada, mostrar o valor que tem, seja em qualquer lugar", descreve.
Ela diz que a tropa do Grupamento de Operações com Cães (GOC) é sua segunda família. "Quando saímos para uma missão, um confia na competência do outro. Quero um mundo assim para a minha filha: em que ela seja respeitada, empoderada, tendo chance de demonstrar seu talento, naquilo que aprendeu", reforça.