Coluna Geremias Pignaton: o que acontecia em Ibiraçu em Agosto de 1886?

Coluna Geremias Pignaton: o que acontecia em Ibiraçu em Agosto de 1886?

Agosto de 1886, alguns dias antes de meu avô, Beppe Pignaton, nascer.

Um abaixo-assinado de treze moradores do Ex- Núcleo Colonial Conde D'Eu defendia o comerciante Bonesi Antonio da acusação de furto de um cavalo.

O sub-delegado, Eduardo Gabrielli Júnior, filho de Eduardo Gabrielli, sogro e cunhado do Dr. Guaraná, era o autor da acusação dizendo que o tal cavalo alazão pertenceria à província.

Nesse período, por outras notícias estampadas no mesmo jornal, vi que existia uma contenda jurídica entre os Gabrielli e o Bonesi, pela posse de um lote urbano no nosso povoado.

Tudo indica que a questiúncula do cavalo era uma perseguição dos Gabrielli contra o Bonesi. Eles tinham poder pela ligação com o Dr. Guaraná, rico fazendeiro na região que naquela altura era político importante no estado, ligado ao partido liberal. Guaraná era o homem mais poderoso do município de Santa Cruz.

Eduardo Gabrielli foi nosso primeiro "prefeito", após a emancipação em 1891, cargo que certamente foi conseguido com o poder de seu genro.

Eduardo Gabrielli saiu de Ibiraçu por volta de 1900 e foi residir em Vitória, onde obteve no Governo Moniz Feire a concessão do serviço de iluminação pública a querosene da capital do estado.

Gabrielli não veio para Ibiraçu com os italianos que fundaram a cidade. Ele chegou ao Brasil bem antes, por volta de 1860. Entrou por Campos-RJ e veio ao Espírito Santo por volta de 1870. Foi empreiteiro, comerciante e político. Também era cantor lírico.

Na lista do abaixo-assinado alguns personagens históricos marcantes: Edmond Lampè, agrimensor judeu francês, e Pietro Minchio, italiano tido como o arquiteto da nossa igreja matriz.

Além do meu bisavô Pignaton Basilio, meu outro bisavô, Spinazzè Natale (Spinazzè grafado errado), estava no documento. Meu avô Beppe, que nasceria por aqueles dias, filho de Basilio, se casou com a minha avó Angela Spinazzè, filha de Natale.

Outro nome conhecido é o de Zandonà Gio Battista, vizinho de terra de Basilio.

Até ver esse abaixo-assinado, tinha a informação de que meu bisavô Basilio era analfabeto. Pelo visto, essa informação não era procedente. Ele ao menos sabia assinar.

Outra informação me deixa satisfeito com meu bisavô: ele tinha coragem de se opor ao poder dominante, enfrentando explicitamente os poderosos Gabrielli e, por via de consequência, o Dr. Guaraná.

P.S: O termo ex-colônia está equivocado. O certo seria ex-Núcleo Colonial Conde d’Eu. Nossa cidade nasceu pela criação de um núcleo colonial na Colônia Santa Leopoldina. Jamais fomos chamados de colônia.