Coluna Geremias Pignaton: Ibiraçu x Aracruz – Deslocamentos Econômicos
Ibiraçu e João Neiva são cidades satélites de Aracruz. Alguns chegam ao máximo de dizer que são dormitórios da cidade vizinha, maior, mais industrializada, mais rica e desenvolvida.
Mas foi sempre assim? Não! Ao longo da história da existência dos três municípios – João Neiva se separou de Ibiraçu em 1988 -, houve alternância, deslocando-se o eixo econômico de tempos em tempos.
No início, desde o século XVI, como escrevi dias atrás, o centro era Santa Cruz, na foz do rio Piraquê-açu, hoje um distrito de Aracruz.
O antigo município de Santa Cruz abrangia um território imenso, desde o litoral até a chamada Serra dos Aimorés, abarcando os territórios de Aracruz de hoje, Ibiraçu, João Neiva, parte de Santa Teresa, de Colatina e Linhares. Na maioria, terras desertas e cobertas de florestas. Povoado era apenas uma parte do litoral e uma pequena porção dos vales do Piraquê-açu, do Piraquê-mirim e do Riacho.
O quadro mudou em 1877, com a chegada de cerca de 300 famílias de imigrantes italianos que foram assentados onde hoje é Ibiraçu. Esses italianos enriqueceram a região, tornando as terras produtivas, sobretudo com a cultura do café, que começava a dominar o cenário econômico nacional. Essa colônia de imigrantes foi reforçada com a abertura dos núcleos Acioli de Vasconcelos e Demétrio Ribeiro, entre 1887 e 1892, no território do município de João Neiva de hoje.
O assentamento dos italianos começou a deslocar o centro do território do vale do rio Piraquê-açu. Não demorou muito, em 1891, o município de Ibiraçu, abrangendo também a parte hoje pertencente a João Neiva, emancipou-se de Santa Cruz, tornando-se o principal centro econômico da região. Isso acentuou-se em 1905, com a passagem da Estrada de Ferro Vitória a Diamantina por Ibiraçu. Nesse período da história, Santa Cruz (Aracruz) foi quem passou a ser satélite de Ibiraçu.
Esse quadro perdurou até o final da década de 1930. No governo do interventor Punaro Bley, o então secretário de agricultura, que viria a ser governador por dois mandatos, Carlos Lindenberg, abriu a rodovia Vitória a Linhares, passando pelos povoados de Santa Rosa, Grapuama, Sauaçu e Guaraná. Isso fez com que o então município de Santa Cruz voltasse a ser o centro comercial e industrial da região, sobretudo pela madeira que era extraída, industrializada e transportada na região de abrangência dessa estrada.
Esse deslocamento econômico, provocado pela rodovia Vitória a Linhares, foi uma das causas da mudança de poder dentro do próprio município de Santa Cruz. A sede municipal se transferiu, por lei municipal em 1948 e de fato em 1950, para o povoado de Sauaçu. Nessa época Santa Cruz se chamava Aracruz e o nome veio para a nova sede em Sauaçu. Também nessa época, muitos descendentes de italianos de Ibiraçu e João Neiva se mudaram para a região de Sauaçu e Guaraná.
Uma outra rodovia deslocou novamente o eixo econômico regional. Foi em meados da década de 1950, quando os governos federal e estadual, na época do governador Jones dos Santos Neves, abriram a rodovia BR 5, onde hoje é a BR 101. Isso isolou novamente Aracruz, voltando a transferir o eixo econômico para Ibiraçu.
Assim foi até o plantio das florestas de eucaliptos, a implantação da indústria da Aracruz Celulose SA e do início do complexo portuário de Barra do Riacho, nas décadas de 1960 e 1970. O município de Aracruz, de lá para cá, dominou a economia regional de forma mais consistente e forte.
Hoje, esse processo parece ser irreversível. Será? A história não trabalha tanto com o futuro. Ela se ocupa do presente, a partir do estudo do passado. Futuro não é muito o objeto do historiador. Deixemos isso para os videntes.