Indústria capixaba avança rumo à economia de baixo carbono

A indústria capixaba está entrando em uma nova era – mais limpa, estratégica e conectada às exigências do mercado global. Em um cenário marcado pela emergência climática, pressão regulatória e crescente valorização da agenda ESG, empresas que atuam no estado vêm investindo em transição energética, descarbonização e práticas sustentáveis.
Entre as companhias que lideram essa transformação no estado destaca-se a Suzano, com investimentos em transição energética e descarbonização que combinam inovação tecnológica, uso de biomassa e compromisso ambiental. Segundo o diretor de Operações, Fabrício José da Silva, hoje a matriz energética da empresa é composta em 88% por fontes renováveis, como licor negro, biomassa e lodo biológico.
“Algumas de nossas fábricas produzem mais energia limpa do que consomem. Esse excedente de geração de energia provém das fábricas de Aracruz (ES), Imperatriz (MA), Mucuri (BA), Três Lagoas (MS) e Ribas do Rio Pardo (MS), permitindo sua disponibilização ao Sistema Interligado Nacional (SIN), contribuindo para a ampliação do grau de renovabilidade da matriz energética do país”, afirmou.
A inovação também está presente na aplicação da Inteligência Artificial (IA), como na gestão do consumo energético, com a finalidade de maximizar o aproveitamento da biomassa em substituição ao gás natural nos fornos de cal. “Na unidade de Aracruz, essa é uma prática que contribui significativamente para a eficiência dos processos industriais, evitando consumo de 1,5 milhão de metros cúbicos de gás natural”, relata Fabrício Silva.
Também em Aracruz, a empresa usa tecnologia para otimizar o uso da biomassa e aumentar a eficiência energética em projetos como a modernização da caldeira de recuperação, além da substituição de turbogeradores movidos a gás natural por modelos movidos a vapor.
“Algumas de nossas fábricas produzem mais energia limpa do que consomem, contribuindo para renovar a matriz energética do país.” Fabrício José da Silva, diretor de Operações da Suzano – Foto: Divulgação/Suzano
No âmbito da sustentabilidade econômica, a Suzano adotou o Preço Interno de Carbono (PIC), que auxilia na priorização e aprovação de projetos que alinham decisões financeiras com metas de descarbonização. Esse é um dos projetos da meta de curto prazo, mas a Suzano tem também propósitos que tangem a meta de longo prazo de aumentar em 50% a exportação de energia renovável até 2030. “Isso fortalece nossos Compromissos para Renovar a Vida, que visam a reduzir a intensidade das emissões de gases de efeito estufa em 15% até 2030”, acrescenta o diretor.
Estoque nas florestas
Na área de sustentabilidade e mudanças climáticas, a gerente de Sustentabilidade e Mudanças Climáticas da Suzano, Sarita Severien, destaca o papel das florestas plantadas na captura líquida de carbono, com remoção de 1,2 milhão de toneladas de CO₂ equivalente em 2024. “Apenas um sétimo das áreas de floresta plantada está sob constante colheita. Os outros seis sétimos estão, em diferentes intensidades, estocando carbono ao longo do tempo e garantindo a permanência desse estoque no campo”, afirmou.
A Suzano também mantém um programa de restauração ambiental nos biomas da Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado que entre desde 2010 e 2024 já recuperou mais de 30 mil hectares, dos quais 24 mil no Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais. Sarita ressalta também o envolvimento com comunidades tradicionais e indígenas, inclusive no território capixaba, onde a empresa mantém uma parceria com a Cooperativa Indígena Tupiniquim e Guarani (Coopygua), atuando em três frentes: coleta de sementes para reflorestamento, produção de artesanato e meliponicultura, com produção sustentável de mel, pólen e cera.
“Iniciativas como essas alinham a geração de renda à conservação das florestas, promovendo a sustentabilidade e o fortalecimento das comunidades locais”, afirma a gerente.
Minérios essenciais e alternativas limpas
Em outro segmento está a mineradora Vale, com papel estratégico na transição energética global, fornecendo metais essenciais para cadeias industriais de baixo carbono. A empresa firmou metas ambiciosas de descarbonização: reduzir em 33% as emissões de Escopos 1 (diretas) e 2 (indiretas) até 2030, zerar emissões líquidas até 2050 e cortar em 15% as demais emissões indiretas (Escopo 3) até 2035.
Na siderurgia, um setor difícil de descarbonizar, a Vale aposta na oferta de minérios que aumentam a eficiência dos altos-fornos e reduzem emissões. É o caso do briquete, tecnologia que permite corte de até 10% nas emissões e ajudará na produção de aço verde com hidrogênio. A mineradora também está implantando os Mega Hubs, para fabricação de produtos siderúrgicos de baixo carbono.
No transporte marítimo, responsável por grande parte da logística da empresa, a Vale adota tecnologias como velas rotativas, aumentando em até 6% a eficiência dos navios, e tanques multicombustíveis, para uso de metanol, amônia e GNL — com potencial de reduzir emissões em até 80%. A meta é zerar emissões do transporte transoceânico até 2050, informou a empresa ao Anuário Verde da ES Brasil.
Nas operações, a companhia acelera a substituição de combustíveis fósseis por alternativas limpas em minas, ferrovias e usinas de pelotização. Em 2023, alcançou 100% de consumo de energia elétrica renovável no Brasil, dois anos antes da meta. Globalmente, o objetivo é chegar a 100% até 2030.
A agenda climática inclui ainda compromissos ambientais como a Meta Florestal Vale, que prevê recuperar 100 mil hectares e proteger outros 400 mil hectares de vegetação nativa até 2030. Na Amazônia, a empresa protege 800 mil hectares no Mosaico de Carajás, no Pará, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). No Espírito Santo, mantém a Reserva Natural Vale, em Linhares, com 23 mil hectares de Mata Atlântica — um centro de conservação, educação ambiental e pesquisa científica, integrado à Rede Brasileira de Jardins Botânicos.
Metas de Descarbonização da Vale
- Redução de emissões diretas e indiretas: -33% até 2030;
- Emissões líquidas zero: até 2050;
- Redução de 15% nas emissões do Escopo 3 (cadeia de valor): até 2035;
- Emissões zero no transporte transoceânico: até 2050.
Compromisso e inovação
Outra empresa comprometida com a transição para uma economia de baixo carbono é a EDP, que alcançou em 2024 um marco expressivo, quando 100% de seu portfólio de geração no Brasil passou a ser composto por fontes renováveis, como solar, eólica e hidrelétrica. A empresa informou que, na América do Sul, as fontes solar e eólica já representam 40% da sua matriz de geração.
No Espírito Santo, a EDP investiu R$ 200 milhões em 13 usinas solares distribuídas nos municípios de São Mateus, Pinheiros, Sooretama, Pedro Canário e Mucurici, somando 44 MWp de capacidade instalada. Esses empreendimentos fazem parte de uma estratégia maior, que inclui infraestrutura de transmissão — área que já recebeu mais de R$ 7 bilhões em aportes desde 2017, em nove estados.
Para lidar com os desafios da intermitência das fontes renováveis, a empresa tem investido em inovação. Em 2024, anunciou aporte de US$ 2 milhões na startup chilena Splight, que usa IA e ciência de dados para otimizar sistemas de geração de energia renovável. Outros projetos incluem usinas híbridas, limpeza automatizada de painéis e expansão da geração distribuída, que já soma 262 MWp no Brasil.
Metas validadas
A descarbonização também é prioridade. A EDP foi a primeira empresa de energia da América do Sul a ter metas de redução de emissões validadas pela Science Based Targets initiative (SBTi). O objetivo é cortar em 85% sua intensidade de carbono até 2032 e atingir a neutralidade até 2040.
No campo da eficiência energética, a empresa está modernizando redes e sistemas de distribuição, com R$ 10 bilhões previstos até 2030. No Espírito Santo, 29 novas subestações foram entregues desde 2020, totalizando 117 no estado, todas operadas remotamente. A companhia também combate perdas e fraudes com tecnologias como inteligência artificial e parcerias com startups locais.
A EDP destaca ainda que seus projetos socioambientais em frentes como educação, cultura e sustentabilidade já impactaram mais de 300 mil pessoas somente no Espírito Santo. Um exemplo é o programa Comunidade IN, com ações de educação, capacitação, energia solar e inclusão social, como os postes de energia solar instalados na comunidade de Piranema, em Cariacica.