Seis meses após massacre de Aracruz, vítimas cobram reparação

Seis meses após massacre de Aracruz, vítimas cobram reparação

Um dos participantes da audiência pública realizada pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, do Legislativo estadual, foi o professor e doutor em Educação Daniel Tojeira Cara. Ele, que coordena, no país, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, destacou que o Brasil é o segundo país do mundo em casos envolvendo massacres e ataques terroristas em escolas, depois dos Estados Unidos.

O foco do debate foi o crime praticado por um filho de um tenente da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES), que no dia 25 de novembro assassinou três professoras, uma aluna e feriu a bala outras 10 pessoas. Por ser de menor de idade, o criminoso está internado na Unidade de Internação Socioeducativa (Unis), em Cariacica (ES). No evento, muitos participantes lembraram que muitas das vítimas, que sobrevieram ao ataque, estão convivendo com sequelas graves após internação hospitalar.

“Já conseguimos prevenir mais de 2 mil tentativas de ataques”, disse Daniel Cara, explicando que a estratégia de enfrentamento ao problema conta com a mobilização da Polícia Federal em conjunto com as polícias estaduais, a partir de informações levantadas mediante monitoramento da internet e denúncias anônimas. Ele esteve em Vitória nesta semana representando o Ministério da Educação, pasta que representa no grupo de trabalho criado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, para o enfrentamento de massacres em estabelecimentos de ensino.

Providências já adotadas pelo Governo Lula

Sobre a segurança das escolas, o representante do Ministério da Educação destacou que o governo Lula, por meio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, anunciou a liberação de R$ 3 bilhões, que estão sendo repassados diretamente aos estabelecimentos de ensino do país para adoção de medidas necessárias para evitar violência às escolas.

Durante a sua exposição, Daniel Cara destacou o avanço de novos movimentos fascistas e nazistas no mundo, pontuando que a violência nas escolas não depende apenas de medidas de segurança, mas de um esforço mundial para o resgate de valores humanitários.

Indenizações

O defensor público do Espírito Santo Hugo Matias afirmou que a Defensoria Estadual tem atuado em Aracruz na assistência às vítimas do ataque ocorrido no município, que lutam por reparações materiais e assistência relacionada à saúde física e mental.

“Tivemos a oportunidade também de ingressar numa ação coletiva contra uma rede social por disseminar conteúdos de ódios na internet, o que é indispensável nos esforços para a prevenção de novos ataques”, disse Matias, que coordena o Núcleo dos Direitos Humanos e Cidadania da instituição. Na época moradores de Aracruz questionaram como foi a formação do jovem que matou 4 e feriu 12, cujo pai, o tenente da PM, propagava em suas redes sociais a indicação para leitura do livro Mein Kampf, de Adolf Hitler e que pode ser conferido clicando neste link.

Filho do tenente da PM de 16 anos praticando o massacre terroista em duas escolas de Aracruz há seis meses | Fotos: Arquivo

Marido de vítima assassinada pelo menor de 16 anos

Wellington Banhos é um dos que lutam por reparações materiais e assistência na área da saúde. Ele perdeu a esposa Maria da Penha, que atuava como professora numa das escolas atingidas.

Em vídeo gravado em casa para a audiência, ele apareceu sentado num sofá ao lado das filhas Isabela e Nicole (7 e 17 anos) e do filho Guilherme (11). Abalado, ele falou sobre a situação enfrentada pela família após a perda da esposa: “Desde que aconteceu, não retornei a trabalhar porque tenho de ficar com eles (os filhos); quando houver as tratativas sobre reparações, espero que tenhamos direito a alguma pensão”, afirmou, acrescentando que, desde o episódio, é acompanhado por psiquiatra e toma remédio para dormir. Os filhos estão sendo atendidos por psicólogos.

Muito sofrimento após seis meses

Outra personagem que luta por reparação é a professora de língua portuguesa Priscila Queiroz, atingida por três tiros, sendo que um deles, conforme disse, “destruiu minha clavícula”. “Passados seis meses ainda convivo com muito sofrimento; estou passando por reabilitação física, mas a dor emocional é muito grande, já que tivemos perdas de colegas. Tenho tomado remédio para dormir, toda minha família está passando por muita dor emocional”, declarou.

Priscila afirmou que os atingidos precisam de mais apoio, pois se sentem sozinhos, esperando por justiça e pelas devidas ações para reparar todos os afetados pelo massacre.

As deputadas Iriny Lopes (PT) e Camila Valadão (PSOL) participaram da audiência pública que debateu a reparação às vitimas do massacre terorista de Aracruz | Fotos: Victor Thomé/Ales

Iriny Lopes e Camila Valadão cobram investigações mais profundas

A deputada Iriny Lopes (PT) cobrou do grupo instituído pelo governo do Estado para enfrentar a escalada de violência nas escolas que sejam realizadas investigações “mais profundas” sobre o massacre de Aracruz.

Ela lembrou que o adolescente autor dos disparos é filho de militar da PM capixaba e que a arma usada pertence à polícia. Além disso, analisou, o adolescente agiu com “precisão”, uma vez que conseguiu matar quatro pessoas e atingir várias outras, mesmo dispondo de poucos minutos para essas ações, ocorridas em locais diferentes, pois invadiu duas escolas. Para Iriny, tudo indica que o adolescente foi instruído por alguém para realizar o ataque e isso precisa ser esclarecido pelo grupo de trabalho instituído pelo Governo estadual.

A presidente da Comissão dos Direitos Humanos, deputada Camila Valadão (Psol), proponente da audiência pública, disse que a realização do debate dá visibilidade sobre o massacre e mantém viva a cobrança da sociedade por justiça aos afetados e para a necessidade de ações efetivas do poder público para evitar novas tragédias.

Camila destacou a importância da presença do professor Daniel Cara e do relato das ações integradas para o enfrentamento do fenômeno da violência às escolas no país;

“Não podemos abordar esse tema apenas pelo viés da segurança pública, é preciso ampliar o debate trazendo à luz outras nuanças que alimentam os discursos de ódio; essa audiência foi uma oportunidade, também, de prestarmos solidariedade aos atingidos pelo massacre, além de homenagearmos as vítimas”, concluiu.